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O potencial transformador do desenvolvimento sustentável norteou o painel “Liderança educacional no Brasil e no mundo”, que abriu a programação do segundo dia do XV Congresso Brasileiro da Educação Superior Particular (CBESP), realizado no Tauá Resort Alexânia (GO).

O evento desta quinta-feira (25) teve a participação de Marlova Jovchelovitch Noleto, diretora da Unesco no Brasil, Leyla Nascimento, vice-presidente de Relações Internacionais da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH), e Lorena San Román Johanning, professora do Mestrado em Gestão de Áreas Protegidas na Amazônia do Instituto Nacional de Pesquisas Amazônicas (INPA).  

Jovchelovitch, que na solenidade de abertura já havia destacado a importância de cumprir a meta  Objetivo de Desenvolvimento Sustentável da ONU nº4, que prevê uma educação equitativa e inclusiva para todas as pessoas, lamentou que a Agenda 2030, estabelecida pelas Nações Unidas oito anos atrás, infelizmente não será alcançada no prazo estipulado. 

“Esse é um cenário preocupante, com certeza. Mas quem trabalha com educação sempre é otimista. Está no DNA dos educadores acreditar no futuro, no potencial do ser humano”, pontuou. 

Para a representante da Unesco, um dos papéis das instituições de ensino superior (IES) é justamente formar gestores conscientes.  

“Diante de tantas transformações tecnológicas e disruptivas e dos desafios do planeta, precisamos de lideranças que conduzam os espaços de aprendizagem com senso ético e visão de futuro, que promovam um caminho estruturado para tornar a educação acessível para todos, servindo como base para o crescimento sustentável”, avaliou. 

Segundo ela, esse processo exige uma dinâmica própria, em que alunos, pais e responsáveis e a sociedade como um todo estejam inseridos. Além disso, defendeu que os líderes se baseiem em dados (de desempenho e contexto social) dos estudantes para tomar decisões.  

“Também precisamos de mais programas para formar lideranças, cuja capacidade foi duramente testada durante a pandemia”, lembrou. Por fim, citou um relatório do Banco Mundial que aponta a educação como o único caminho para interromper o ciclo transgeracional da pobreza e destacou a necessidade de repensar nossos padrões de consumo e relação com o meio ambiente e com o planeta.

Diálogo entre educação e trabalho 

Com o olhar voltado para as práticas de RH, Leyla Nascimento lembrou que a clássica frase “pensar global, agir local” já não cabe mais no mundo de hoje. “Hoje tudo é global, com impacto em todo o planeta. A pandemia mostrou isso, impactando tanto a questão da sobrevivência quanto a nossa liberdade de ir e vir”, argumentou. 

Nesse sentido, defendeu que não há como pensar modelos de negócio sem o olhar de sustentabilidade, o que acarreta, por exemplo, na inclusão dos refugiados no mercado de trabalho. “As novas gerações, especialmente após a pandemia, se tornaram mais seletivas em relação ao local em que desejam trabalhar, pois pensam mais em qualidade de vida e em um mundo sustentável e inclusivo. Além disso, o mercado está mudando, com novas funções dentro das organizações. Cabe às instituições de ensino prepararem esses profissionais”, observou. 

De acordo com a vice-presidente da ABRH, um dos principais desafios dos líderes atualmente é ter uma leitura ampla dos cenários para fazer a tomada de decisões. E isso inclui ser mais flexível e acolhedor. “Hoje é essencial termos processos seletivos menos rígidos, mais ligados à troca. Também precisamos investir em requalificação, pois muitas pessoas perderam o timing nesse processo de ebulição global e correm o risco de não estar mais aptas para o novo mercado de trabalho.” 

A solução, segundo Nascimento, é investir em políticas ESG (“algo que era voltado para a área financeira, mas que será uma exigência para todo tipo de empresa”) e capacitar lideranças para lidar com os avanços da inteligência artificial (IA). “Educação e trabalho caminham juntos. Precisamos de um diálogo maior entre organizações empresariais e educacionais para termos uma economia colaborativa e sustentável”, completou. 

Erradicação da pobreza 

Ao encerrar o painel, Lorena Johanning fez uma defesa enfática do desenvolvimento sustentável como a única maneira de acabar com a pobreza, sobretudo na América Latina, onde ela desenvolveu seu trabalho em nações distintas como Costa Rica (seu país natal) e México. “Só assim poderemos pensar nos 30 milhões de brasileiros que precisam ingressar na educação, tirá-los da pobreza e inseri-los em um ambiente saudável”, sintetizou. 

A educadora fez uma apresentação destacando como surgiu o conceito de desenvolvimento sustentável, durante a primeira Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, na Suécia, em 1972. “Antes disso, só eram contemplados os aspectos econômicos e sociais, sem pensar no impacto ambiental”, ressaltou. “E o desenvolvimento precisa satisfazer as necessidades do presente sem comprometer o futuro.” 

Ao relembrar os avanços graduais sobre a questão da sustentabilidade – incluindo a já mencionada Agenda 2030 e, muito antes disso, a Agenda 21, um dos principais resultados da conferência Rio-92 -, Johanning  deu um recado para os líderes educacionais. “Todos os estudantes, de todas as carreiras, devem saber o que é a Agenda 21. O Brasil foi o pai e a mãe do desenvolvimento sustentável! Mas eu dou palestras e os jovens não sabem o que é a Agenda 21”, lamentou. O mesmo vale sobre os 17 Objetivos Sustentáveis da ONU. 

Esse desenvolvimento deve ser alcançado por meio da interdisciplinaridade (envolvendo as esferas cultural, econômica e ecológica) e da intersetorialidade (inserindo no debate governos, IES, ONGs e empresários). “A América Latina tem um grande problema ético hoje: em alguns países, os governantes esquecem de escutar as pessoas. Se quisermos falar em políticas públicas sustentáveis e inclusivas, pelo menos esses grupos intersetoriais precisam ser ouvidos.” 

Ao questionar o porquê de o continente ter tantos pobres, a educadora destacou que, muitas vezes, os recursos são direcionados para áreas erradas. “Venho de um país muito pequeno, que em 1948 aboliu as forças armadas. O dinheiro é aplicado em saúde e educação”, comparou. 

Conhecimento de mundo 

Concluindo sua fala, Johanning enfatizou a importância de se estimular as atividades práticas no conhecimento acadêmico. “Queremos que os jovens e adultos tenham competências teóricas e práticas. Muitas vezes, na universidade, temos a teoria perfeita, mas onde está há prática?”, indagou.  

A costa-riquenha conclamou os líderes educacionais a promoverem uma integração maior entre estudantes e seu contexto social, conhecendo de favelas a fazendas.

“É isso que fazemos no mestrado em Gestão de Áreas Protegidas na Amazônia. Os estudantes vão pra floresta, entram em contato com indígenas e garimpeiros. Só tendo conhecimento do que acontece ao seu redor é que você pode ter uma percepção melhor do mundo.” 

O painel ainda contou com a coordenação de Lúcia Maria Teixeira, presidente do Semesp, entidade que representa mantenedoras de ensino superior do Brasil, e Gilberto Gonçalves Garcia,  reitor da Universidade São Francisco, como sintetizador.  

Realizado pela Linha direta e promovido pelo Fórum das Entidades Representativas do Ensino Superior Particular, o CBESP está sendo transmitido ao vivo pelo YouTube.

A cerimônia de encerramento, nesta sexta-feira (26), às 12h, contará com a participação da ministra do Meio Ambiente e Mudança Climática, Marina Silva. Confira a programação completa do evento aqui

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