Na manhã desta quinta-feira (29), o XVII CBESP deu início às atividades do segundo dia com o painel “Casos de Sucesso de Internacionalização da Educação Superior Brasileira”, coordenado por Amábile Pacios, vice-presidente da FENEP. O encontro reuniu representantes de instituições com experiências consolidadas em internacionalização, que apresentaram projetos de mobilidade acadêmica, parcerias bilaterais, programas de extensão com impacto local e global, além de propostas inovadoras para ampliar a inserção internacional da educação superior privada.
A pesquisadora Francislene Hasmann, da Universidade da Amazônia (Unama), abriu a sessão destacando a estrutura e a atuação do setor de Relações Internacionais do grupo mantenedor, com mais de 300 mil alunos como público-alvo. Ela abordou os principais desafios enfrentados pelas instituições brasileiras, como a desvalorização cambial, os custos operacionais e a dificuldade em firmar acordos amplos e duradouros com universidades estrangeiras. “Hoje, o maior obstáculo da internacionalização é o custo. A língua já não é mais o problema. O que falta são mais apoios institucionais e governamentais para tornar essas experiências mais acessíveis”, afirmou. Francislene apresentou ainda programas como o InterNet Mobility — intercâmbio virtual com universidades parceiras —, cursos intensivos de inglês no exterior com custos subsidiados e projetos de imersão ambiental e cultural na Amazônia, com destaque para o zoológico acadêmico da unidade de Santarém e o projeto de reabilitação de peixes-boi marinhos.
O reitor do Centro Universitário Christus (Unichristus), José Rocha, compartilhou a trajetória de internacionalização da instituição cearense, destacando o cuidado com o alinhamento pedagógico entre os programas de intercâmbio e os objetivos de aprendizagem de cada curso. “Internacionalizar não é passear. É preciso saber o que queremos que o estudante aprenda, que competências vai desenvolver e qual valor essa experiência agrega à sua formação”, defendeu. Ele apresentou parcerias ativas com universidades em Portugal, França, Espanha, Alemanha, Estados Unidos e Canadá, que incluem desde dupla titulação até estágios clínicos em hospitais de ponta, como o Sick Kids, em Toronto. Rocha também mencionou a colaboração da Unichristus na implantação de cursos técnicos e de odontologia na Guiné-Bissau, como parte de uma missão formativa voltada à cooperação internacional.
Em seguida, a reitora do Centro Universitário Uniceplac, Kelly Pereira, ressaltou os esforços institucionais para estruturar a internacionalização como um ecossistema com três eixos: aprendizagem, pesquisa e extensão. Ela apresentou projetos de mobilidade, publicações científicas em parceria com universidades europeias e um programa de extensão inovador realizado em Brasília com comunidades estrangeiras, por meio de convênios com embaixadas e organismos internacionais. “Nosso projeto ‘Cuidar Brincante’ leva nossos estudantes a atuar em comunidades imigrantes e refugiadas, promovendo um contato real com a interculturalidade. É uma forma de internacionalização sem fronteiras, feita com intencionalidade e impacto social direto”, explicou. Kelly destacou também o papel da IFMSA, associação internacional de estudantes de medicina, como força ativa na internacionalização acadêmica da instituição.
Fechando o painel, o ex-ministro da Educação Luiz Cláudio Costa, reitor do IESB, fez um panorama histórico da internacionalização no Brasil e destacou o papel essencial das IES privadas. “As universidades privadas vêm fazendo muito com pouco. A internacionalização não é só enviar alunos para o exterior. É criar pontes culturais, respeitar saberes locais e ampliar horizontes para um mundo mais justo e interconectado”, afirmou. Ele propôs a criação de um Fundo Nacional de Internacionalização com equidade, a ampliação de bolsas para estudantes da rede privada e a inclusão explícita das IES particulares em editais públicos. “Não faz sentido termos políticas públicas que excluem 80% dos estudantes do país. A única barreira aceitável deve ser a qualidade, nunca a natureza jurídica da instituição”, defendeu.
O encerramento ficou a cargo de Carlos Joel Pereira, presidente do Semesb/Abames, que sintetizou os principais pontos com uma perspectiva empresarial e crítica. Ele provocou o setor a pensar também a internacionalização como estratégia de negócios e de desenvolvimento econômico para as instituições, especialmente no acolhimento de estudantes estrangeiros no Brasil. “Temos influência forte na América Latina e na África, mas ainda faltam políticas claras para atrair esses estudantes. A internacionalização também pode e deve gerar sustentabilidade financeira para nossas IES”, afirmou.
A programação do segundo dia do XVII CBESP segue com uma intensa agenda de debates. Às 11h, será realizado o Painel 2 – Novo Plano Nacional de Educação (PNE): O que Esperar da Próxima Década?, com participação de representantes do MEC, CNE e entidades setoriais. No período da tarde, acontecem dois outros painéis, além de workshops temáticos sobre avaliação institucional, inteligência artificial na gestão acadêmica e empreendedorismo universitário.