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Após dois anos de pandemia, as faculdades voltaram a registrar, neste primeiro semestre, aumento de novas matrículas nos cursos presenciais – modalidade que perdeu cerca de 700 mil alunos entre 2020 e 2021. Os percentuais de crescimento variam entre as instituições de ensino, com casos de expansão de até 35%. No entanto, ainda há muita dificuldade para reajustar o valor da mensalidade, com muitas faculdades reduzindo o preço, diante do atual cenário de inflação alta e desemprego.

O valor médio das mensalidades em São Paulo, maior mercado de ensino superior do país, está em R$ 814,90 o que representa uma queda de 19% quando comparado a 2021, segundo pesquisa do Instituto Semesp.

“Captamos bem, conseguimos manter a base de alunos no presencial. Mas não há margem para crescimento de tíquete. A pandemia deixou um legado de dívidas e desemprego”, disse Arthur Sperandéo de Macedo, CEO da FMU, centro universitário controlado pela gestora Faralllon.

Segundo Celso Niskier, presidente da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (Abmes) e da Unicarioca, as instituições de ensino que voltaram a ofertar aulas presenciais mais cedo, conseguiram melhor captação, com aumento de até 30%. “Estamos num momento de retomada e o desempenho varia também conforme a praça. No Rio, a captação cresceu menos. Ainda temos guerra de preços”, disse Niskier. Em sua instituição de ensino, a Unicarioca, o volume de ingressantes da graduação presencial subiu 10% e o valor médio da mensalidades caiu na mesma proporção.

Levantamento da consultoria Educa Insights com 20 grandes faculdades, mostra crescimento de 30% a 35% no número de calouros no semestre, em relação ao primeiro semestre de 2021, mas ainda com valor de mensalidade menor. O tíquete médio nacional dos cursos presenciais é de R$ 750.

Outro indicador desse cenário de demanda por cursos presenciais e dificuldades para arcar com a mensalidade foi percebido na Pravaler, gestora de financiamento estudantil. A empresa teve o melhor trimestre de sua história, com 15 mil contratos assinados. Em cerca de 70% desses casos, a faculdade é quem bancou a taxa de juros para que o financiamento fosse acessível ao aluno. Os juros variam de 0,59% a 0,99% ao mês. “Os alunos estão voltando para o presencial e procurando alternativas. As instituições sabem que sem ajuda os alunos não conseguem arcar com os juros do financiamento. A maior procura é pelo curso de enfermagem presencial”, disse Beto Dantas, sócio da Pravaler e fundador da Amigo Edu, startup adquirida pela gestora. Houve ainda um grupo de 10 mil alunos que conseguiram descontos diretamente com a faculdade, por meio de um serviço intermediado pela Pravaler.

A guerra de preços, ao lado de inovação no setor de educação, foram os temas mais comentados durante congresso realizado pela Abmes, entre quinta-feira e sábado, em Florianópolis.

O publicitário Nizan Guanaes, que abriu o congresso, criticou a guerra de preços no setor e a atenção dos grupos educacionais muito voltado ao financeiro. “A educação tem um desafio. Você sabe se a estratégia está correta se a empresa não está submetida a uma guerra de preços e o setor de vocês está submetido a uma guerra de preços. Eu vejo isso pelos comerciais de vocês na TV, é só preço, preço, preço”, disse Nizan.

Em sua visão, as instituições de ensino precisam ter uma estratégia de marketing que desperte nos alunos um sentimento de pertencimento pelas faculdades que estudam para que haja valorização do negócio. Com isso, o estudante deixaria de escolher a faculdade somente pela localização geográfica ou necessidade de um diploma para ser promovido no trabalho. Esse sentimento de pertencimento pela instituição de ensino do qual se formaram é comum nas classes média e média alta. Não à toa, faculdades premium, públicas ou privadas, possuem ou estão criando fundos patrimoniais em que os doadores são ex-alunos.

Niskier admite que existe essa dificuldade na base da pirâmide, mas destaca que a inclusão de tecnologia e metodologias pedagógicas inovadoras, como trabalhos por projetos, vai criar aos poucos uma referência entre os alunos que irão optar pelo modelo acadêmico da instituição de ensino e não apenas pelos critérios atuais de preço e localização.

Segundo Daniel Castanho, presidente do conselho da Ânima, um entusiasta de novas metodologias pedagógicas, para que haja essa mudança na percepção dos alunos, os grupos educacionais precisam se unir numa agenda comum para que os grupos educacionais sejam reconhecidos primeiro pela qualidade acadêmica e não pelo preço.

A jornalista viajou a convite da ABMES

Fonte: Valor Econômico

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